Uma equipe composta por policiais federais, veterinários e especialistas do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) viajou no último dia 22, ao Suriname para recuperar 36 animais nativos da fauna brasileira apreendidos naquele país em julho. O grupo é formado por 29 araras-azuis-de-lear (Anodorhynchus leari) e sete micos-leões-dourados (Leontopithecus rosalia).
Além de resgatar os animais, os policiais irão colaborar com as autoridades do Suriname para identificar os responsáveis pelo tráfico, bem como mapear possíveis rotas e táticas ilegais utilizadas pelos traficantes de animais.
Os micos-leões-dourados serão submetidos a um período de quarentena no Zoológico Municipal de Guarulhos e, posteriormente, serão incorporados à população de segurança da espécie. Essas populações de segurança são mantidas em instituições de manejo ex situ (fora do ambiente natural), onde todos os indivíduos têm sua origem e genealogia conhecidas e são gerenciados de maneira a garantir uma população viável do ponto de vista demográfico e genético, com o objetivo de futuras reintroduções na natureza.
As reintroduções de micos-leões-dourados entre as décadas de 1980 e 2000 desempenharam um papel fundamental na recuperação da espécie, que agora conta com uma população estimada de 4.800 indivíduos, conforme dados de pesquisadores.
Todos os micos serão submetidos a uma avaliação individual abrangente, incluindo aspectos comportamentais e de saúde. Durante o período de quarentena, amostras biológicas serão coletadas para investigar parentesco entre os indivíduos e determinar a origem populacional, o que auxiliará nas investigações sobre a rede de tráfico. Com base nos resultados, os animais receberão orientações quanto à sua melhor destinação, e poderão ser oficialmente integrados ao Programa de Manejo da espécie.
As 29 araras-azuis-de-lear serão transportadas para Cananeia-SP, onde serão submetidas a quarentena e avaliações adicionais. Elas contribuirão para o manejo integrado da população da espécie. Após análises sanitárias, comportamentais e genéticas, essas araras serão alocadas de acordo com a sua função mais relevante no plano de conservação, conforme determinado pelo Programa de Manejo.
O objetivo geral do programa é fortalecer a população de araras-azuis-de-lear na natureza. Grupos de araras resultantes desse programa, envolvendo animais nascidos em cativeiro e resgatados, têm sido reintroduzidos na caatinga desde 2019, aumentando a população no Parque Nacional Boqueirão da Onça de 2 para 19 indivíduos, com quatro deles nascidos de um casal reintroduzido em Boqueirão.
Tanto a arara-azul-de-lear quanto o mico-leão-dourado são espécies endêmicas do Brasil, com distribuição restrita a áreas de Mata Atlântica e Caatinga. Ambas estão classificadas como Em Perigo (EN) de extinção, tanto na avaliação global quanto na avaliação nacional, devido a populações extremamente reduzidas na natureza e à fragmentação de seus habitats, sendo a maioria encontrada em Unidades de Conservação sob gestão do ICMBio.